Poema para o Metrô: Pai de Todos

29 de março de 2011 § Deixe um comentário

noite paulistana

aquarela: noite paulistana .

Pai de Todos


A vida é uma menina

um menino no colo da mãe

A minha vida é essa Trindade

às seis horas da tarde

vestida de família

de amigo, pai, vizinho, avô

A vida é todo mundo que se encarna

em feição de gente

nesse colo de metal: o metrô

A cidade? São Paulo é um corpo

feitinho adolescente

esse inocente vigor

querendo ser gente grande

Ai, a pressa da paixão

antes do tempo!

O coração… o coração desta cidade

bate, na pressa, tum-tum, sua sístole e diástole

Olhe, é o metrô, apinhado de gente

passado, presente, futuro, menino,

bebê, dor de dente, hemácias, hemoglobina

Lá vem o metrô, trazendo oxigênio

menina, sacola, pão doce, conta pra pagar atrasada

Lá vai ele pra Vila Madalena,

bilhete da Sena, guarda-chuva, pastel, empada

Amar. Amar esse colo, essa verdade mineral

essa velocidade

Viu?, ele deseja o corpo da cidade

suas veias, suas artérias paulistanas,

Ele trama a teia da irmandade:

um bate-boca, um beijo, um leva-e-traz…

Chiii, já é tarde!

vai ver, perdi o namorado

Mas quê que tem? Se trago na minha pele

como um carinho

o aroma, o calor, o suor, uma cor, o olhar

Se me inspiro nessa respiração ofegante

dos meus irmãos de colo

Esse colo de metal – Pai de Todos –

que chamam por aí de metrô.

Regina Gulla

https://bosquesonhador.wordpress.com


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